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Foto do escritorDra Betina von Staa

Quem se prepara para o futuro digital não depende da sorte

Em estudo recente realizado pelo CensoEAD.Br da Abed, em parceria com o Instituto Casagrande e o SIEEESP para compreendermos um pouco do que ocorreu nas escolas particulares de São Paulo neste período de isolamento social (http://www.abed.org.br/site/pt/midiateca/noticias_ead/1775/2020/06/pesquisa_sobre_ensino_remoto_na_educacao_basica) observamos alguns resultados que merecem ser olhados muito de perto:

Somente 19% dos gestores acreditavam que “uma educação mediada por tecnologia é essencial para preparar os alunos para um futuro digital.”

Não por acaso, somente 29% se sentiam preparados para o ensino remoto no momento do fechamento das escolas, ao passo que 61% dos gestores se sentiam um tanto sem rumo, acreditando que “vamos encontrar uma solução, seja ela qual for.”

E, mais uma vez, não por acaso, 57% dos gestores se viram, neste momento, em busca de um modelo de aprendizagem remota. Vários consideraram esta a sua maior dificuldade e 81% pretendem continuar buscando novas metodologias mesmo após a pandemia.

Quanta sorte: as tecnologias estavam lá, esperando para serem usadas!

Por sorte, já estavam disponíveis as mais variadas tecnologias próprias para o ensino remoto e foi só aprender a usá-las que em uma semana as escolas conseguiram entregar algo para os seus alunos, mantê-los no sistema e alcançar mais de 75% de frequência nas aulas remotas no Ensino Fundamental e Médio.

Por que por sorte? Porque as tecnologias estavam aí, mas sem a visão de que são essenciais para a formação dos alunos para o futuro digital, estavam sendo bastante ignoradas pelos sistemas educacionais que não as testavam, utilizavam, comparavam ou avaliavam. Ou seja, na média, as escolas não estavam assumindo o seu protagonismo em identificar as melhores maneiras de adotar tecnologia nas suas rotinas, e, quando foi necessário usá-las, aceitaram o que estava disponível e ainda tinham um enorme trabalho pela frente exatamente para testar, experimentar e avaliar a melhor forma de usar esses recursos por meio de um “modelo de aprendizagem remota” ou “metodologias comprovadamente eficazes”.

Não queremos nossos alunos aprendendo a usar tecnologia por sorte

É exatamente isso o que não queremos que aconteça com os nossos alunos neste momento da sua vida ou quando chegarem no mercado de trabalho. Se eles não desenvolverem o letramento digital junto com a escola e seus professores, vão usar as ferramentas de interação social e lazer da forma que preferirem, sem necessariamente refletir sobre a influência que elas exercem sobre as suas vidas e sem necessariamente explorar as maneiras mais efetivas de usar tecnologia para aprender, trabalhar e produzir.

Um profissional não consegue mais trabalhar bem se não souber usar ferramentas de trabalho remoto das mais variadas: reunião em vídeo, compartilhamento de tela, compartilhamento e edição conjunta de arquivos, divulgação de conteúdos em redes sociais, uso de linguagem adequada nas diferentes mídias, entre muitas outras habilidades “básicas”.

Se a escola não oferecer essas oportunidades para os alunos, e continuar focada em ensinar a redação do ENEM, a fórmula de Báskara e as revoluções da nossa história sem integrar tecnologia nesse processo, estará formando alunos inaptos para o mercado. E sorte a de quem tiver a oportunidade de aprender sozinho ou em casa.

Se a escola não discutir regras de netiqueta, respeito ao próximo em todos os ambientes, inclusive virtuais ou como distinguir, lidar e não distribuir fake news, estará formando cidadãos que usam tecnologia para as mais variadas finalidades sem controle sobre elas. E sorte a de quem tiver a oportunidade de aprender sozinho ou em casa.

Se a escola não mostrar como fazer pesquisa, como distinguir as melhores fontes, como avaliar a informação encontrada na rede, os alunos continuarão acreditando na informação que chega no topo das suas buscas. Com sorte. E sorte a de quem tiver a oportunidade de aprender sozinho ou em casa.

Não queremos contar com a sorte para a formação dos nossos alunos para compreender o mundo em que vivem e se inserir no mercado de trabalho. As escolas tiveram sorte de encontrar as ferramentas de que precisavam com as pontas dos dedos dos seus colaboradores. No entanto, elas revelam que ainda terão de dedicar tempo para conhecer as melhores práticas de uso destas ferramentas. Não vamos deixar os alunos descobrirem as melhores práticas para viver no seu mundo por sorte. As escolas devem assumir o protagonismo sobre a sua formação para o mundo. Consequentemente, eles desenvolverão o seu próprio protagonismo no mundo em que vivem.

Pois é: Quem se prepara para o futuro digital não depende da sorte

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